Mirian Goldenberg
Envelhecer é também priorizar os próprios desejos e encontrar felicidade, prazer e liberdade
Muitos me perguntam por que resolvi estudar o envelhecimento, assunto que consideram difícil e deprimente.
Interessei-me pelo tema quando li "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir. Nesse livro, decisivo para minhas escolhas profissionais e pessoais, ela diz que "por volta dos 50 anos, a mulher está em plena posse de suas forças, sente-se rica de experiências.
Só lhe ensinaram a dedicar-se e ninguém reclama mais sua dedicação. Inútil, injustificada, contempla os anos sem promessa que lhe restam por viver e murmura: "Ninguém precisa de mim"."
Mais importante ainda foi ler "A Velhice", também de Beauvoir. É um retrato cruel do envelhecimento. "Já que o destino da mulher é ser, aos olhos do homem, um objeto erótico, ao tornar-se velha e feia, ela perde o lugar que lhe é destinado na sociedade: torna-se um monstro que suscita repulsa e até medo."
Quando estive na Alemanha para dar conferências sobre "O corpo como capital na cultura brasileira", fiz muitas entrevistas com mulheres.
Percebi que lá, aos 60 anos, elas se sentem no auge da vida, entusiasmadas com projetos profissionais, viagens, programas culturais etc.
Voltando ao Brasil, iniciei uma pesquisa para compreender o significado da velhice na nossa cultura. As mulheres de 40 e 50 anos falaram, principalmente, da decadência do corpo e da falta de homem.
Para minha surpresa, quanto mais avançava na idade das pesquisadas, mais aspectos positivos apareciam em seus depoimentos sobre a velhice. Elas passaram a fazer coisas que sempre desejaram, como dançar, viajar, namorar, pintar, estudar etc.
Mais importante: deixaram de se preocupar com a opinião dos outros e passaram a priorizar os próprios desejos.
Uma professora aposentada, de 74 anos, disse: "Com a idade ganhei duas coisas preciosas: liberdade e maturidade. Faço o que eu quero, não faço o que não gosto, namoro com quem eu quero, beijo quem eu gosto, faço musculação e pilates, saio, viajo, tomo chopinho, vou à praia, fiz uma tatuagem há três anos e vou fazer outra... é o melhor momento de minha vida".
As brasileiras estão vivendo mais e muito melhor. Existem muitos ganhos com o envelhecimento, não só perdas.
Sugiro que aquelas que têm medo de envelhecer escutem mais atentamente o que as novas velhas têm para dizer, não só sobre doenças, preconceitos e invisibilidade social, mas também sobre felicidade, prazer e liberdade.
MIRIAN GOLDENBERG antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de "Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (Ed. Record)
Envelhecer é também priorizar os próprios desejos e encontrar felicidade, prazer e liberdade
Muitos me perguntam por que resolvi estudar o envelhecimento, assunto que consideram difícil e deprimente.
Interessei-me pelo tema quando li "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir. Nesse livro, decisivo para minhas escolhas profissionais e pessoais, ela diz que "por volta dos 50 anos, a mulher está em plena posse de suas forças, sente-se rica de experiências.
Só lhe ensinaram a dedicar-se e ninguém reclama mais sua dedicação. Inútil, injustificada, contempla os anos sem promessa que lhe restam por viver e murmura: "Ninguém precisa de mim"."
Mais importante ainda foi ler "A Velhice", também de Beauvoir. É um retrato cruel do envelhecimento. "Já que o destino da mulher é ser, aos olhos do homem, um objeto erótico, ao tornar-se velha e feia, ela perde o lugar que lhe é destinado na sociedade: torna-se um monstro que suscita repulsa e até medo."
Quando estive na Alemanha para dar conferências sobre "O corpo como capital na cultura brasileira", fiz muitas entrevistas com mulheres.
Percebi que lá, aos 60 anos, elas se sentem no auge da vida, entusiasmadas com projetos profissionais, viagens, programas culturais etc.
Voltando ao Brasil, iniciei uma pesquisa para compreender o significado da velhice na nossa cultura. As mulheres de 40 e 50 anos falaram, principalmente, da decadência do corpo e da falta de homem.
Para minha surpresa, quanto mais avançava na idade das pesquisadas, mais aspectos positivos apareciam em seus depoimentos sobre a velhice. Elas passaram a fazer coisas que sempre desejaram, como dançar, viajar, namorar, pintar, estudar etc.
Mais importante: deixaram de se preocupar com a opinião dos outros e passaram a priorizar os próprios desejos.
Uma professora aposentada, de 74 anos, disse: "Com a idade ganhei duas coisas preciosas: liberdade e maturidade. Faço o que eu quero, não faço o que não gosto, namoro com quem eu quero, beijo quem eu gosto, faço musculação e pilates, saio, viajo, tomo chopinho, vou à praia, fiz uma tatuagem há três anos e vou fazer outra... é o melhor momento de minha vida".
As brasileiras estão vivendo mais e muito melhor. Existem muitos ganhos com o envelhecimento, não só perdas.
Sugiro que aquelas que têm medo de envelhecer escutem mais atentamente o que as novas velhas têm para dizer, não só sobre doenças, preconceitos e invisibilidade social, mas também sobre felicidade, prazer e liberdade.
MIRIAN GOLDENBERG antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de "Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (Ed. Record)
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