por Cristiane Dias
São 90 anos, muita história para contar e uma lição de vida surpreendente. Assim definimos uma mulher guerreira que não se deixou abater em um momento difícil de sua vida. O nome desse exemplo de superação é Dorina Nowill.
Aos 17 anos, ela perdeu a visão devido a uma patologia ocular. Assim que descobriu que não iria voltar a enxergar, Dona Dorina fez de tudo para não deixar que isso atrapalhasse sua vida e o alcance de seus objetivos. “Tentei diversos tratamentos, mas nada foi possível para recuperar minha visão. Na época, minha mãe rezou muito para que eu voltasse a enxergar e, se isso não fosse possível, que eu não ficasse revoltada. E eu não fiquei. Muitas oportunidades surgiram na minha vida e fui aproveitando o que me era oferecido”, conta.
No começo foi difícil aceitar toda essa situação, mas, como ela mesma diz, “a cegueira é difícil para uns, um pouco menos para outros e fácil para ninguém”. E, como não foi fácil, ela teve de lutar para superar as dificuldades. Dona Dorina lembra que, na época, não existia projeto algum que incluísse deficientes visuais em papéis sociais, principalmente nos estudos.
Primeira ação –Mesmo sem visão, Dona Dorina queria continuar estudando, mas o problema estava na falta de assistência para cegos no Brasil. Entretanto, ela não deixou que isso a influenciasse negativamente. A guerreira diz que entrar na escola Caetano de Campos, de São Paulo, foi o primeiro passo para a superação: “Interessante lembrar que muitos diretores do departamento de educação do estado não acreditavam na possibilidade de minha participação como aluna regular no curso normal, mas a adaptação à escola se processou normalmente. Era uma classe homogênea, não me fizeram sentir que era diferente. Eu, pelo menos, nunca me senti diferente. E a curiosidade dos outros a meu respeito era apenas normal, nunca exagerada”.
Mesmo enfrentando obstáculos, ela conseguiu se formar. Em seguida, recebeu a proposta de uma bolsa para fazer um curso de especialização na área de deficiência visual na Universidade de Columbia, proposta oferecida pelo governo americano, pela Fundação Americana para Cegos e pelo Instituto Internacional de Educação. Ela aceitou o desafio e, assim que concluiu o curso, voltou ao Brasil.
Mais um passo–Ao chegar, Dona Dorina colocou em prática tudo o que aprendeu lá fora. Percebendo a dificuldade de acesso dos estudantes com deficiência visual à cultura e à informação, ela e um grupo de amigas criaram a Fundação para o Livro Cego no Brasil. “Em 1991, essa organização recebeu meu nome em reconhecimento ao meu trabalho em prol da inclusão social do deficiente visual”, conta, orgulhosa.
Há 63 anos como presidente da Fundação Dorina Nowill, ela conta que a determinação para chegar ao posto veio por aceitar os fatos: “Sempre tive de aceitar as situações como elas se apresentavam, mas logo depois conseguia melhorar as condições para alcançar o que queria. Os momentos de transição fazem parte e são preâmbulos das grandes sensações da vida. Não existe mudança sem crise. É preciso ter paciência e capacidade para lidar com as atividades da vida cotidiana”.
Exemplo de coragem – Dona Dorina foi pioneira no trabalho para inclusão de cegos no Brasil e responsável pela criação do Departamento de Educação Especial na Secretaria da Educação de São Paulo. Conseguiu que o direito à educação do cego fosse regulamentado em lei e dirigiu o primeiro órgão nacional de educação para cegos, criado pelo Ministério da Educação, Cultura e Desportos. Além disso, trabalhou com organizações mundiais de cegos e órgãos da ONU como representante do Brasil. Em 1979, foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos.
Também foi destaque em vários outros projetos para cegos. Ela conta que a maior satisfação em conseguir alcançar seus objetivos estava ligada ao fato de poder ajudar outras pessoas com a mesma deficiência para que pudessem superar as dificuldades em relação ao acesso à cultura, à educação, à informação e, principalmente, à integração social.
Casada, mãe de 5 filhos e avó de 12 netos, Dona Dorina deixa como lição o verso a seguir: “Há sempre algo mais além dos males e das deficiências que a vida nos apresenta. Para além da dúvida, existe a fé. Para além do sol, existe o calor e a energia quando a luz se apaga. Para além da vida, a eternidade”.
Para saber mais:
Visite o site: www.fundacaodorina.org.br
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